Maratona de Lima por Henrique Almeida
“Que experiencia, que prazer foi estar neste lugar, que prova maravilhosa foi aquela, e Lima entra de vez no seleto número de lugares que eu realmente preciso estar de novo.
Tenho saudade deles. Muitas!
Após vivenciar algumas situações em poder aliar a Maratona (esporte que pratico) com a oportunidade de conhecer lugares exóticos, atraentes, com bons serviços e que te ofereçam organização em alto nível no evento, saí em busca de estar em uma prova em um país que pudesse saciar essa minha “exigência pessoal”.
Vindo de provas importantes em outros países, e em cidades maravilhosas, queria fechar a agenda do meu primeiro semestre com chave de ouro, mas as localidades preferidas e mais comentadas da maioria dos esportistas que conheço e que compartilham da máxima de “Correr e Viajar”, não compactuava de maneira a atender minhas possibilidades profissionais antes do meio do ano.
Atento aos eventos em todo o mundo pela internet, recebi uma chamada para visitar a página de uma Maratona que se apresentava no folder com uma foto muito bonita, em uma cidade cosmopolita, com um mar de pessoas e ainda patrocinada por uma gigante do esporte (Adidas): Maratona Movistar Adidas 42K em Lima no Perú. Pensei rapidamente no quão poderia ser interessante estar naquela cidade carregada de mística e de costumes diferentes e aclamada por todo o mundo como um lugar onde a gastronomia embala os mais exigentes paladares.
Mas e a prova, é tudo isso ou não ?
Pesquisei por alguns dias alguns comentários nas redes sociais, vi fotos (muitas delas), me interei do percurso e passei a fazer parte de um grupo promovido pela Adidas onde nós recebíamos diariamente as novidades e tudo o que a prova iria oferecer. Realmente eu já me sentia encantado e como um imã, estava cada vez mais atraído pela idéia de estar lá conhecendo e respirando toda aquela atmosfera. Relatos davam conta de que a cidade inteira pára e acolhe os participantes do evento com todo o carinho, não importando a distancia, pois ela oferece as modalidades de 10, 21 e 42k muito bem distribuídos pela capital Lima, sem repetições de trajeto em todos os percursos, fato que agrada qualquer corredor.
Pronto, decidido. Eu vou. Tenho um parceiro importante no segmento de viagens e corridas que anunciava esta maratona na capital do Perú sob o seguinte slogan: 10 motivos para se correr em Lima! Logo me veio a cabeça que os deuses das antigas civilizações que lá habitaram realmente queriam muito minha presença em terras peruanas e sem pestanejar mais, até porque já sou pleno conhecedor dos serviços da Turismo Sob Medida, entrei em contato e alinhamos tudo. Realidade. Eu estava com tudo acertado para correr uma nova prova, e seria em Lima, no Peru
Chega o dia, viagem tranqüila, quase 5 horas de vôo e já estava no belo e muito organizado (principalmente no quesito segurança) aeroporto internacional Jorge Chavez. Ao sair pelo saguão, uma simpática figura de estatura baixa, com aquela fisionomia caricata dos locais, me aguarda com uma plaquinha : Muy bienvenido Señor Pereira de Almeida. Me aproximo, faço o primeiro contato e constato uma simpatia ímpar, misturada a prestatividade e por que não dizer alegria estampada em me receber no país dele. Chico era sua graça.
Ele era o meu transfer, previamente instituído ainda no momento do fechamento do pacote. Pelo caminho me mostrava Lima, literalmente uma metrópole, com ruas largas, centros comerciais, bairros periféricos (características dos países da América do Sul) e um clima bastante agradável. Logo entramos na orla e percorremos grande parte do trajeto à beira mar num visual esplêndido, com muitos jardins e uma vida bastante ativa. Íamos sentido à região de Miraflores, onde eu ficaria hospedado, e muito conhecida pela beleza, organização de suas bucólicas ruas e lotada de bares, restaurantes e claro muitos cassinos.
Ainda no hall do hotel, Chico me passou os telefones dele e combinou comigo que retornaria para me levar no dia seguinte para um CityTour e para retirar o kit da corrida, na despedida, me surpreendeu de novo me presenteando com um casal de bonequinhos feito a mão, vestidos com a roupas tradicionais dos peruanos. Ele acabara de concretizar ali, todo o tratamento que me encantava desde o momento que se apresentou no aeroporto. Hotel super confortável com atendentes sorridentes somente dava a certeza de que realmente era a característica e qualidade que eles melhor poderiam oferecer.
Entusiasmado com tudo o que eu estava vendo, saí para andar pelas imediações de Miraflores e claro, almoçar. Encontrei à beira mar um conglomerado de restaurantes próximos a um shopping, com um deck de frente para o mar, e claro pedi um risoto de frutos do mar com ceviche, um clássico da culinária peruana. O visual era sensacional, a cidade fica a beira de uma espécie de penhasco e o acesso ao mar se faz descendo várias escadarias. Que momento. Que comida. Que atendimento. Eu estava realmente muito feliz.
Após isso, andei bastante e fiz o caminho de volta a pé novamente (é bastante seguro), tenho certeza que qualquer brasileiro pensará que o transito de lá é bem parecido com nossas grandes cidades, e é, porem a buzina lá é o item mais usado, não estranhem. Descansei e claro, saí para jantar e passear por Miraflores.
Eu tinha já informações de um restaurante de nome Punto Azul, de preços acessíveis que oferecia um polvo muito bem feito. Caminhando eu o encontrei a 3 quadras do hotel. Cheio e com espera na calçada, logo tive a certeza de que queria jantar ali, aguardei no máximo 30 minutos, até porque uma mesa para uma pessoa acaba sendo mais fácil de se arranjar, né?, pedi uma cerveja local, a ótima Cusceña, e fui agraciado pelo atencioso garçom com uma cortesia de milhos desidratados e salgadinhos como aperitivo para incrementar a espera do prato, o tal polvo.
Enquanto isso, eu olhava ao redor e percebia os sotaques italiano, ingles e outros que eu não pude decifrar mas que mais tarde vim a saber que eram dinamarqueses, ou seja, cidade muito bem promovida, frequentada e que me dava sempre a sensação de escolha perfeita. O prato chega, o polvo servido em um vitral, sim um lindo vitral, sob uma cama de legumes e deliciosamente macio. Um brinde a primazia. Saí dali tão surpreso e feliz que liguei para mina esposa no Brasil para contar e enviar as fotos, e no caminho do hotel ainda fiz uma “fezinha” em um cassino.
Dia seguinte, bem disposto e ávido pelo City tour e para ir até o local da retirada do kit, tomei o café da manhã e percebi o Chico novamente sorridente me aguardando na Recepção. Fomos de cara retirar o kit logo cedo, o local era um anexo do estádio Nacional de Lima. Gente, que lugar. Uma Expo a céu aberto, muito colorida, com as maiores e melhores marcas do mundo, carros em exposição e um stand da Adidas com artigos e com uma proposta interativa que transformava o momento literalmente no parque de diversões dos maratonistas. Kit impecável, muito rico em produtos e de uma qualidade indiscutível, já que a marca patrocinadora forneceu o material.
Food trucks espalhados pelo local animavam e eram convidativos, e uma rápida fila registrava seu bib number no sistema de fotografias para que você após a prova as buscasse gratuitamente no site ou na rede social. Incrível, né? Tão incrível que me esqueci do Chico lá fora. Após duas horas de “rolê” por lá fui ao encontro do sempre sorridente amigo que me levou a vários lugares bacanas e em especial, Huaca Pullana, um aglomerado de pirâmides carregadas de historia das primeiras civilizações que habitaram aquele chão, os Lima, que viveram por lá muito tempo antes dos Maias.
Bom, véspera de prova é preciso resguardo e descanso. Após me despedir de Chico e combinar o momento que ele voltaria para me levar de volta ao aeroporto no dia do retorno, me recolhi ao confortável hotel. Tranquilo, decidi pedir o jantar no hotel mesmo, visando manter a linha de repouso que antecede a maratona. O cardápio muito bem elaborado por nutricionista em conjunto com o chef era bastante interessante, fui de massa com um filé ao molho, que de verdade me deu vontade de repetir, era a culinária do Peru mais uma vez se apresentando de maneira ilibada.
Chegou o dia. José Jorge me buscou e me levou até a prova, ele mesmo viria me pegar ao fim dela, bastava uma ligação. Ok. Que vibe, que organização, quase 15.000 pessoas educadamente buscavam seus boxes de largada (eles largam em horários diferentes por conta das distancias), um potente som embalava a todos, o sotaque peculiar agradecia a presença e nos felicitava. Em pleno centro financeiro de Miraflores, com prédios espelhados e largas avenidas, largamos. A população nos aplaudia, a polícia sorria com as mãos para trás, várias bandas locais ao estilo peruano eram nossa trilha sonora pelo caminho. Uma cidade linda, limpa, com pessoas felizes, com trechos a beira mar, com clima favorável, altimetria um pouco desafiadora mas nada tão sofrido para quem treinou, atendimento médico pelo percurso e ótima hidratação, pontos com baldes e esponjas para dar um refresco aos corredores, e sim, ali tive a certeza de que estava em uma prova grande, de magnitude. Na chegada, por um trecho de 800 metros que antecede ao pórtico, as pessoas nas grades te aplaudem, fazem barulho com alguns guizos e felizes literalmente te levam até o tapete azul onde voce termina com a sensação de quero mais.
A Medalha é das mais bonitas que tenho, recebemos o lanche de fim de prova e fui convidado a entrar num dos diversos recipientes com gelo e receber a massagem dos vários fisioterapeutas que lá estavam a disposição e gratuitamente. O Stand da Adidas, nos aguardava com sofás, pufs e aquela cervejinha gelada, e simpáticos meninos tatuavam em tinta removível, o finisher e a distancia correspondente. UM SHOW!
Voltei ao hotel, calmamente tomei banho, descansei, me alimentei e no final de tarde, Chico chegou com aquela fisionomia que estampava um pedido: prometa que voltará!
Me despedi daquela figura simples e amigável no aeroporto prometendo não só a ele, mas ao Perú que eu voltaria.
Que experiencia, que prazer foi estar neste lugar, que prova maravilhosa foi aquela, e Lima entra de vez no seleto número de lugares que eu realmente preciso estar de novo.
Tenho saudade deles. Muitas!