Patagonia Run por Cássia Rodrigues
“O que se pode esperar da prova:
paisagens deslumbrantes, subidas de tirar o fôlego e amigos que parecem vir da infância. Ou seja, valeu muito a pena.
Eu sou uma corredora apaixonada por corridas de montanha mas também corro asfalto.
Na verdade sempre quiz participar de alguma corrida que fosse na Patagônia pois sou apaixonada pelas belíssimas paisagens dessa região tão encantadora.
Foi quando um belo dia comecei a seguir à agência Turismo sob Medida, e por uma coincidência eles estavam falando ao vivo justo da Patagonia Run. Acompanhei todos os detalhes que falavam da cidade…
Nesse momento armei uma brincadeira com um amigo e disse-lhe, “bora mudar esse título de maratonista para um ultra? Acabei de fazer a inscrição Rogério faltam pouco mais de 30 dias para essa corrida, bora?”
Mas na verdade eu não tinha feito a inscrição queria um parceiro pra poder ir porque essas corridas de ultra, sozinha, para o psicológico não é muito legal.
Foi aí que no mesmo dia ele ligou na agência e fez a inscrição, passados 2 dias ele me enviou a mensagem perguntando que roupa de frio eu iria usar na corrida, eu cai no riso e disse “ops eu estava brincando com você na verdade eu quero muitooo ir mas como acabei de chegar da Maratona da Disney, meu esposo não vai querer pagar”, foi aí q ele ficou bravo e me disse: “ ‘Siviraaaa!!!!’ Liga lá agora e se inscreve nos 74km! Eu estou indo por sua causa!”. Não tive outra saída, e que saída maravilhosa”. Rsrsrs
Na retirada de kit, tomei um susto, eles disseram que eu estava inscrita na corrida dos 21km e eu disse que era nos 74km… A organização pediu para que eu voltasse no outro dia que iria tentar falar com o Rafael para resolver o problema… foi muito rápido no mesmo dia o Rafael resolveu e no outro fui buscar meu kit 74km. Aliás, Rafael o tempo todo conectado e a postos para ajudar no que fosse preciso. (Achei muito bacana essa parte da assistência 24 horas. Virei fã da Turismo Sob Medida.)
A corrida foi muito difícil devido ao frio extremo, e ao horário de largada – às 03:00 da madrugada – com temperatura de 1 grau com sensação térmica abaixo de zero!!
Ao sair do hotel, que estava tão quentinho, logo veio a minha cabeça, “o que estou fazendo aqui”? É isso mesmo produção? Aff sinto mais frio que qualquer ser humano na terra!!!! kkkk
Mochila pesada nas costas, e vamos lá! (vale ressaltar que a organização também fornece hidratação e alimentação ao longo do extenso percurso).
Para resumir, meu amigo Rogério de São Paulo disparou na frente e foi cada um seguir sua corrida.
Encontrei com ele chorando muito no km 33 dizendo que tinha virado o pé e que não estava conseguindo correr que iria andando até terminar a corrida. Eu já havia participado dos 100km em Costa Esmeralda Santa Catarina com muita lama chuva, terrenos escorregadios e montanhas assustadoras, mas a Patagônia é diferente de tudo!!! Os 74km que no final constou 75,5km foram os mais difíceis que já participei até hoje. Mais difíceis que os 100km que fiz em Santa Catarina.
As montanhas além de serem altas, é de perder de vista. As panturrilhas que foram bem treinadas já não aguentavam mais de tanta dor, foi então que a cabeça e o psicológico tiveram que entrar em ação.
Esquecemos a dor e a vontade de chegar se torna a única meta.
Eu estava com 2 luvas, e 4 blusas, calça térmica e mesmo assim no km 23 tive uma Hipotermia onde meus dedos congelaram de tal forma que eu não conseguia segurar os bastões, graças a excelente estrutura da corrida como era madrugada encontrei um staff com uma fogueira no meio de muita neblina ele foi logo tirando minhas luvas, fazendo massagem e colocando minhas mãos no fogo. Era uma dor como se varias agulhas ficassem em meus dedos com toda força do mundo, eu não parava de chorar, a dor era forte – só nas mãos graças ao bom Deus! Melhorei e continuei o trajeto, que por sinal estava muito bem sinalizados.
Passados mais uns 5km a Hipotermia resolveu dar o ar da graça, e por sorte encontrei mais anjos chamados de staffs que fizeram o mesmo procedimento. Ali fiquei uns 8 minutos parada.
Retornei à corrida e só rezava para sair o sol, e eita lugar que demora para sair o sol, Aff….. ele só da as caras as 08:15 da manhã, e foi um sol fraco mas ajudou fazendo com que a Hipotermia desaparecesse.
Confesso que chorei ao ver o sol, bem no topo da montanha, o mais lindo nascer do Sol que meus olhos já viram.
As paisagens faziam com que eu esquecesse de tudo, paisagens lindíssimas – correr nas montanhas nos deixam com a sensação de estarmos mais próximos de Deus e mais fortes.
Vários aprendizados. Corpo e mente trabalhando em sincronia. Se um deles enfraquece, eu estava fora. O treinamento físico é muito importante, mas o fundamental é a “cabeça”.
Foram muitas decidas de arrepiar, eu como tenho muito medo de altura sofri um pouco nas decidas, mas nas subidas tentava me superar pois minha meta era chegar antes de escurecer, estava com muito medo de dar algum pane nas lanternas, e foi aí que acelerei. Parei um pouco com fotos e vídeos e me dediquei a meta, que era chegar antes de escurecer.
As paradas com os postos de hidratação deram um show à parte. Nem dava vontade de continuar correndo, por lá tinha croissant quentinho com recheio de goiabada, água, gatorades, sopas, chás, doces, frutas secas, um excelente banquete para os atletas.
Ou seja fome você não passa, até arrepende de ter carregado tanto peso nas costas.
A Patagonia Run é uma corrida extremante técnica, difícil até para quem já fiz provas em montanhas, meu amigo que só corria no asfalto sofreu bastante.
As paisagens de tirar o fôlego e a energia dos corredores tornou tudo mais fácil.
Graças a Deus consegue atingi minha meta de chegar antes de escurecer, cheguei 18:08 mas meu amigo não deu muita sorte, chegou às 20:00 com chuva, ventania e fazendo muito frio. Depois de aquecido ele agradeceu por eu ter convidado para essa experiência fora do normal.
Eu também nunca tinha visto beleza igual.
Aos apaixonados por montanhas só tenho uma coisa a dizer, não leve mochilas pesadas pois a corrida tem uma excelente estrutura para os atletas, quanto mais leve melhor para subir, não tente ir por conta própria pois do aeroporto de Bariloche a San Martín de Los Andes são 3 horas de carro, ou seja é toda uma estrutura, e com a Turismo Sob Medida qualquer problema eles estão dispostos para resolver o mais rápido possível, e se você for sozinho fica bem complicado para você chegar à Patagonia Run.
O Hotel que ficamos muito aconchegante! Os argentinos desta região são muito hospitaleiros, e foi uma viagem inesquecível que eu pretendo voltar daqui a alguns anos. À Turismo Sob Medida só tenho a agradecer – gratidão por tudo.
Cheguei cansada, mas de corpo e alma lavados.
No fim da prova, falei que não correria mais.
Mas, como todo bom corredor de longas distâncias, mudei de ideia depois de uma noite de sono.
Que venha a próxima.